Solenidade de Nossa Senhora Aparecida: Jo 2,1-11 - Aparecida e os desaparecidos

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

A Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida para nós católicos do Brasil não é apenas mais uma festa mariana, mas evoca uma verdadeira história de amor e devoção do povo brasileiro à Mãe de Jesus, chamando-a carinhosamente de Mãe Deus e nossa, Nossa Senhora Aparecida. 
A intuição espontânea e natural daquelas primeiras pessoas que, a partir de 1717, começaram a chamar “Aparecida” a Mãe de Jesus, transcende o simples fato de se ter encontrado inesperadamente a sua imagem, ao lançar as redes para a pesca. A liturgia de hoje, com a autoridade da proclamação da Palavra de Deus, faz ressoar com mais força a verdade desse modo tão simples de pedir a intercessão da Mãe de Jesus, chamando-a de Nossa Senhora Aparecida. Ela não é Aparecida porque sua imagem foi encontrada durante uma pesca, ou mesmo porque foi vista por crianças (Fátima, 1917), mas porque Deus a quis como sinal concreto da realização das suas maravilhas: “Apareceu no céu um grande sinal: Uma Mulher vestida do sol...” (2ª Leitura).  
Ela não é “Aparecida” porque chama a atenção para si mesma, mas ela aparece para que se cumpra a missão que lhe foi confiada, como mãe do Salvador. Por isso, é consequência natural que interceda em defesa do seu povo. Nela reconhecemos, de modo mais pleno e evidente, aquilo que a Sagrada Escritura diz sobre a rainha Ester, que diante da ameaça de morte do seu povo, apareceu diante do rei para interceder, suplicar a salvação para o seu povo. Ester, revestida com vestes de rainha, foi colocar-se frente à residência do rei, apareceu no palácio real para ser vista pelo rei, que diante da sua formosura e beleza olhou para ela com agrado e prometeu-lhe dar tudo o que pedisse (1ª Leitura). Não colocou-se à frente do rei para ser vista simplesmente como bela e tivesse sua vida poupada, mas apareceu intercedendo para que seu povo não desaparecesse.    
Aparecida é mais do que ser vista de modo surpreendente e estático, mas é fazer-se ver, apresentar-se de modo operante, não como imagem muda, mas como apelo, súplica, intercessão em favor de outrem.
Maria é Aparecida porque, adornada de tanta beleza pelo próprio Deus, seria um desperdício manter-se escondida. Seria um precioso perfume encerrado num frasco e, por conseguinte, ninguém dele usufruiria o bom odor. Seria uma obra prima de valor inestimável abandonada no sótão de uma pinacoteca, cujo autor não seria conhecido nem admirado. O próprio Jesus afirma que ninguém acende uma lâmpada para escondê-la debaixo da mesa, mas a coloca num lugar alto para que a sua luz apareça, brilhe e ilumine.
Maria é a criatura humana por excelência, através da qual o Deus invisível, cujo esplendor e beleza superam a capacidade humana de perceber, quis que um pouco dessa sua grandiosidade refletisse nas suas criaturas. Em Maria, criatura humilde e fiel, temos a obra prima de Deus, que se não aparece, o seu autor não seria conhecido e amado.
Na perspectiva joanina o sinal das Bodas de Caná foi o momento inicial do aparecimento de Jesus, pois “manifestou a sua glória e seus discípulos creram nele”.
Este foi o princípio dos sinais, e a Mãe de Jesus estava lá. E foi ela que, na ausência do vinho, isto é, quando a alegria tinha desaparecido da festa de casamento, aparece não para tomar o lugar do Filho, mas diante dele para consolidar a sua missão. Precisamos que ela sempre apareça e nos repita constantemente: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.



Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana