Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos: 1Cor 15,55 - Onde está, ó morte, a tua vitória?

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

Neste dia em que celebramos a comemoração de todos os fiéis defuntos, a liturgia não nos favorece uma oportunidade simplesmente de recordarmos o fato chocante e incompreensível da morte dos nossos entes queridos, mas nos faz mergulhar no mistério, iluminado pela Morte e Ressurreição Daquele que é a nossa vida e a nossa esperança de eternidade feliz, e por isso reafirmarmos a nossa fé na vida que vence a morte.  
Impossível para o ser humano imaginar a sede sem a água, a fome sem o alimento, o calor sem o frio, o frio sem o aquecimento. A vida não existiria ou seria apenas um terrível momento de angústia, de busca sem sentido. Como seria torturante necessitar, buscar, sem encontrar, sem se satisfazer!
“Como a corça suspira por águas correntes, minha vida suspira por ti, ó meu Deus” (Sl 42,2).
A própria experiência da humanidade, ao longo de sua história, tem demonstrado que, além da sede e da fome e de tantas outras necessidades fundamentais, no coração humano está inscrito um irresistível desejo de vida plena. E se é verdade que só temos sede porque existe água, do mesmo modo, só desejamos que a vida não morra, porque existe a eternidade. A morte sem a fé na vida tornar-se-ia a grande ironia da existência humana. Assim como uma cova não pode reter a semente nela depositada, pois no momento certo, irromperá com força e vitalidade, tornando-se planta madura e frutífera, assim também um túmulo não é capaz de aprisionar alguém cuja vida foi marcada por tantas lutas, tantos esforços, tanta beleza e encanto. 
“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).
Crer na ressurreição não é uma atitude alienante para suavizar a dor de ingênuos, mas a atitude mais coerente de quem crê na vida e, portanto, reconhece os seus anseios mais profundos e não os nega, e não admite o absurdo de que a morte seja a última palavra da sua existência; reconhece a sede, mas não se recusa a beber na fonte.
“Quem tiver sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim... do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,37).
A fé na ressurreição é o caminho que conduz o sedento à fonte. A sede e a fome não podemos negar, mas comer e beber podemos optar. A fé não nos faz crer na morte, mas na vida que não morre. O Cristo, vencedor da morte, abriu-nos não apenas a mente para compreendermos esta verdade, mas tornou-se o Caminho de vida para quem Nele crer alcance a realização do mais profundo anelo do coração humano. E portanto, neste dia, mais do que nos perguntarmos sobre o fato da morte, devemos responder à pergunta fundamental: se cremos que a vida venceu!



Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana